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Sobre ser pessimista e não ter sorte



Costumo conversar com diversas pessoas durante o meu dia, tempo suficiente para refletir sobre algo ou até para um debate sobre o clima. Foi assim que uma mulher com seus 50 anos puxou conversa comigo, questionando o calor, o sol, a falta de chuva, a dificuldade de trabalhar com aquele clima, o estresse que era o local de trabalho pela falta de ventilação, as diversas trocas de uniforme ao longo do dia pelo suor e assim por diante. Bom, o assunto mudou, mas a negatividade manteve-se em todos os assuntos, seguindo por todos os aspectos da vida daquela pessoa. Estava claro, ela só conseguia ver o lado ruim e inconveniente da sua vida. Tenho certeza que todos nós conhecemos pessoas presas em padrões de pensamentos, sendo muitos desses padrões negativos. Temos aquele amigo que procura defeitos, o parente que só reclama da vida, o chefe focado nos erros de seus colaboradores, o colega que já chega no ambiente de trabalho prevendo algo de ruim. Reconheceu alguém? Para entendermos a situação vamos olhar para os estudantes de Direito, nos quais os níveis de angústia aumentam no momento em que entram em sala de aula e passam a desenvolver técnicas de análise crítica. Assim, eles são treinados a encontrar defeitos na argumentação, tornando-se críticos e menos tolerantes (1). Podemos concordar que essa é uma habilidade importante para sua profissão, por outro lado, se levada para outros pontos de sua vida trará consequências negativas.

Talvez você já tenha visto pela internet a reprodução de um experimento (2), onde voluntários assistem a um vídeo com duas equipes de basquete, a equipe branca e a equipe preta, trocando passes entre seus jogadores. Os voluntários são instruídos a contarem quantos passes são realizados pela equipe branca durante o vídeo, até que em determinado momento alguém fantasiado de gorila caminha entre os jogadores enquanto continuam trocando passes. A próxima etapa do experimento foi questionar os voluntários sobre o número de passes realizados e ainda se perceberam algo de diferente durante o vídeo, algo como um gorila gigante entre os jogadores. O mais interessante disso tudo é que o experimento foi repetido diversas vezes e aproximadamente 46% dos participantes não notou o gorila. Os pesquisadores chamam esse efeito de “cegueira não intencional”, assim podemos deixar de ver coisas bastante “óbvias” quando não estamos focando nelas.

E se tentássemos procurar o lado positivo das situações em nossas vidas? Mais otimistas talvez? Considerando diversos estudos que já mostraram o otimismo como um fator para melhor desempenho no trabalho, alcance de metas e superação de obstáculos. Além disso, os otimistas lidam melhor com situações de dificuldade e conseguem manter o bem-estar durante esses períodos (3). Esperar por resultados positivos aumenta suas chances de sucesso. Foi com essa ideia que WISEMAN tentou descobrir por que algumas pessoas parecem ter tanta sorte, enquanto para outras tudo parece dar errado (4). O experimento seguiu da seguinte maneira: voluntários foram instruídos a contar o número de fotos em um jornal. Aqueles que acreditavam ter sorte levaram poucos segundos para realizar a tarefa, enquanto aqueles que consideravam-se azarados demoraram em média 2 minutos. Como explicar isso? Na segunda página do jornal havia uma mensagem, GRANDE, em negrito, com os dizeres “pare de contar, há 43 fotos nesse jornal”. Como se não bastasse, ainda havia um bônus adicional no meio do jornal: “Pare de contar, diga ao pesquisador que você viu esta mensagem e ganhe 250 dólares”. As pessoas que afirmaram não ter sorte, deixaram essa oportunidade passar, de novo. Agora eu pergunto, e se aplicássemos esse padrão de pensamento positivo em todos os aspectos de nossas vidas? Em nossos relacionamentos, em nossa família, em nosso trabalho, em nossa saúde, etc. Bom, predispor-se a esperar um resultado positivo efetivamente conduz o cérebro a reconhecer o resultado quando ele surgir (5).

Vamos tentar?

(1) G. Andrew H. Benjamin Alfred Kaszniak, Bruce Sales and Stephen B. Shanfield. The Role of Legal Education in Producing Psychological Distress Among Law Students and Lawyers. Law & Social Inquiry. 11 (2), 225 - 252, 1986. (2) SIMONS DJ; CHABRIS CF. Gorillas in our midst: sustained inattentional blindness for dynamic events. Perception. 28, 1059 - 1074, 1999. (3) SCHEIER MF; WEITRAUB, JK; CARVER, CS. Coping with stress: divergent strategies of optimists and pessimists. Journal of Personality and Social Psychology. 15, 1257 – 1264, 1986. (4) WISEMAN, R. The luck factor. The skeptical inquirer. 27, 1 – 5. 2003. (5) SEIFERT, C; PATALAMO, AL. Opportunism in memory: preparing for chance encounters. Current directions in psychologist. 10, 410 – 421. 2005.

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